
percebi que adoro oficinas de poesia. um medo enorme me invade, aquele certo acovardamento que sentimos frente a um poema, ninguém explica por quê. mas gosto. gosto mais do que as oficinas de prosa e ainda não entendi muito bem. deve ser o pavor de ter que criar ficção, que me abraça há muitos e muitos anos – décadas.
mas eis que ontem, na manhã criativa do clube seiva, a maravilhosa Stephanie Borges nos presentou com a oficina A poesia não é luxo. já começou pelo título. e o arrebatamento foi enorme.
contexto: este foi um mês bem atípico aqui em casa, onde, em quase 14 anos de casamento, costuma reinar a paz e o convívio pacífico. mas o que houve foi muita tensão em um junho no qual passei por duas cirurgias (a retirada de uma pinta grande no tornozelo, que me rendeu uma cicatriz feia e um repouso forçado, e outra bem mais complexa, que foi a histerectomia e que também rendeu cicatriz feia e repouso forçado), enquanto encarava o processo seletivo pro doutorado na federal de São Paulo em uma área que não é a minha (e passei! <3). e o Léo exausto, com mais de 190 horas extras acumuladas (191h30min, pra ser exata). não foi mercúrio retrógrado, foram as circunstâncias. o convívio passou a ficar meio áspero.
então veio a oficina e a proposta da atividade. vários inícios preestabelecidos para poemas, escolha um. o que escrevi acabou sendo um pedido de cessar-fogo e resultou em um sábado maravilhoso.
poema de um amor cansado
a gente podia esquecer
que você ronca
e me irrito
a gente podia esquecer
que minha voz
aguda
perfura seu ouvido
a gente podia esquecer
o cansaço
que nos abate
a gente podia esquecer
que de manhã sou elétrica
e você, zero volt
a gente podia esquecer
que não rio das suas piadas
e você se ofende
a gente podia esquecer
a menopausa
que me frita
a gente podia esquecer
farpas, cutucadas, razões
a gente podia esquecer
a louça lá na pia
e o motoboy na portaria
e o lixo pra descer
a roupa suja pra lavar
o tempo todo
mesmo que tudo isso
seja entre quatro paredes
a gente podia esquecer
as famílias
as horas extras
os doentes e as palavras certas
a gente podia
acima disso tudo
lembrar por quê se ama
vocês também gostam de sair da zona de conforto e fazer coisas que assustam?
Meu livro, um sonho de infância, foi publicado pela Ópera Editorial. Você pode comprar direto comigo um exemplar pelo meu perfil do Insta ( @hsimoesmiranda ) que eu envio para você um exemplar com dedicatória ou no site da editora.
Olha o que a @so_phiacastellano escreveu sobre minha obra:
Este é um livro que te conquista logo nas primeiras páginas. De leitura fácil e deslizante, a autora te convida para uma saborosa jornada nas entranhas cruas de São Paulo, centro, zona leste e seu coração. Aqui, lê-se as mais vívidas memórias de infância, juventude e vida adulta.
Tais crônicas crescem e se revelam junto com sua autora, transpassando para quem lê o olhar sensível e acurado das maravilhas poéticas e peculiares de um cotidiano citadino. Impossível não se deixar seduzir pelos períodos sinestésicos, metafóricos e de metalinguagem que Helena propõe, pois ela brinca com as palavras e figuras de linguagem nos conduzindo para seu sereno universo que por vezes é assustador.
Sei que já foi, mas ficou no YouTube! Foi um bate-papo gostoso com a Profa. Dra. Lilian Viana, mediado pela Profa. Ma. Charlene Lemos. Assista aqui.
Eu me acovardo muito diante de poesia, até pra comentar poesia alheia em grupos de escrita preciso buscar uma dose forte de coragem. Adorei a tua! E parabéns pelo doutorado 🥳