Estou participando do TEMA – contos latino-americanos (são oficinas da Biblioteca Mário de Andrade, mês passado teve a de poesia latino-americana), sob a condução da Carol Rodrigues (@carolrods), e estou amando. Resolvi postar esta semana o conto que produzi durante nossa última aula.
A natureza exuberante das montanhas. O verde, os pássaros, nada ali parecia feito para assombrar. O vento que soprava geladinho, a lareira, o vinho, a coberta. O aconchego nos braços um do outro, ursos. Hibernando em harmonia. Até o gatilho para o pesadelo: ele a chamou de Roberta. Roberta!!! Como ousava?! Feito parabólica equivocada pelos ruídos de um tempo que não existe mais, trouxera as ondas de um passado não mais permitido. Um passado que inexistia a seus olhos, como se o desejo pudesse jogar tudo aquilo num borrão lúgubre que desse calafrios ao ser evocado. E foi movida por essa estranha fúria gelada que pegou o atiçador da lareira e acertou-lhe a cabeça. Uma, duas, três vezes. E até transformar o rosto adorado em uma massa disforme. Levantou-se, lavou as mãos tranquila, trocou de roupa e, ao pegar a bolsa, esparramou batom, chave, espelho, documentos. No RG, sua foto e seu nome. Demorou a se reconhecer. Roberta. Juntou tudo, meteu na bolsa e saiu pela porta da frente do chalé, triunfante escuridão adentro.

Também reescrevi meu poema:

Os cemitérios da minha infância
deixaram poeiras cósmicas,
sonhos que outras pessoas sonharam
não eu
Os espíritos passeiam ali,
naqueles bosques de lápides
As flores são testemunhos dos vivos
que assombram suas vielas
Abençoados são
os que vagam por ali
in vi sí veis
Meu pai nos carregava
por essas paisagens em sépia
desfocadas,
todas elas,
nas lembranças
A menina aprendendo a homenagear
quem não conhecia
em silêncio nem sempre
um riso suave,
talvez
Mas fica-me impregnada a pergunta,
essa sim me apavora:
Pai, por que não nos levou
para conhecermos nós mesmos
os seu próprios mortos?
(meu resultado do exercício proposto por @caetano.romao , durante o último encontro do Tema de poesia latino-americana)
Meu livro, um sonho de infância, foi publicado pela Ópera Editorial. Você pode comprar direto comigo um exemplar pelo meu perfil do Insta ( @hsimoesmiranda ) que eu envio para você um exemplar com dedicatória ou no site da editora.
Olha o que a @so_phiacastellano escreveu sobre minha obra:
Este é um livro que te conquista logo nas primeiras páginas. De leitura fácil e deslizante, a autora te convida para uma saborosa jornada nas entranhas cruas de São Paulo, centro, zona leste e seu coração. Aqui, lê-se as mais vívidas memórias de infância, juventude e vida adulta.
Tais crônicas crescem e se revelam junto com sua autora, transpassando para quem lê o olhar sensível e acurado das maravilhas poéticas e peculiares de um cotidiano citadino. Impossível não se deixar seduzir pelos períodos sinestésicos, metafóricos e de metalinguagem que Helena propõe, pois ela brinca com as palavras e figuras de linguagem nos conduzindo para seu sereno universo que por vezes é assustador.
Sei que já foi, mas ficou no YouTube! Foi um bate-papo gostoso com a Profa. Dra. Lilian Viana, mediado pela Profa. Ma. Charlene Lemos. Assista aqui.
Lindo poema! O conto me transportou para aquele lugar!
Coisa boa experimentar diferentes formas de escrever.... Adoro esses desafios!